quinta-feira, 28 de abril de 2011
Entrevistas-Parte 1-Perguntamos aos Autores XIX
1-O que te leva a escrever literatura fantástica?
Penso que sempre senti uma atração especial pelo fantástico, em grande parte devido à vastidão de potencialidades que apresenta. A ideia de um cenário diferente do da nossa realidade, com regras, hierarquias e entidades completamente novas, é algo de simplesmente fascinante. E, se o mundo que criamos é diferente do nosso, então também a natureza das personagens pode ser completamente nova: atitudes muito próximas do que nos move, e também atitudes muito distantes podem coexistir na personalidade de uma figura perante determinada situação. O outro lado da atração pelo gênero não é exatamente racional: em parte pelos motivos anteriores e em parte por uma ligação emocional, sinto que é o gênero que, de facto, mais me completa.
2-Você acha que esse tipo de literatura, tem uma rejeição maior nos países de língua portuguesa, já que não temos grandes nomes da literatura fantástica mundial, de origem em nosso idioma?
É complicado. Há muitos fatores a influenciar a visibilidade de um nome e há mercados muito mais vastos que o dos países de língua portuguesa, daí que não estranhe que muitos dos nomes mais conhecidos venham do exterior. Ainda assim, parece-me que ainda existe um certo preconceito contra o gênero, sim.
3- Quando foi que você teve o primeiro contato com a literatura fantástica? E quando resolveu escrever?
É difícil traçar uma linha temporal precisa. Afinal, existem elementos de fantástico em livros que, normalmente, não são incluídos no gênero. Mas diria que o ponto em que a curiosidade se tornou vício foi com a leitura da série Harry Potter e dos livros da Marion Zimmer Bradley, por volta dos 13-14 anos. Quanto à escrita, tive as minhas pequenas experiências anteriores, mas foi pela mesma altura que me apercebi de que era algo que queria realmente fazer.
4-Em que lugar você busca inspiração para escrever suas histórias?
Um pouco em toda a parte. Nas situações de cada dia, nas imagens mirabolantes de sonhos e pesadelos, nas diferentes mitologias e nos múltiplos sistemas hierárquicos... Nas imagens e nas emoções daquilo com que me cruzo, quer na realidade quer nos múltiplos imaginários.
5-Você acha que ainda há espaço no Brasil ou Portugal para novos escritores de literatura fantástica?
Sim, acredito que sim. O gênero é algo de tão diverso que penso que, ainda que com diferentes públicos como objetivo, há lugar para novas criações no fantástico. Nas suas mais distintas vertentes.
6-Em se tratando de literatura fantástica, o que é mais difícil: Escrever, encontrar uma editora ou adquirir novos leitores para o gênero (no Brasil/em Portugal)?
Todos os passos têm as suas dificuldades. Qual deles é mais difícil? Para mim, escrever é o mais fácil, porque é o que reside exclusivamente nas minhas mãos. Os restantes... depende. Cada caso é um caso e ambos os aspectos têm os seus obstáculos.
7-Em sua opinião, a literatura fantástica ainda enfrenta algum preconceito, por parte de quem não conhece o gênero?
Algum, sim. Ainda há, em alguns meios, uma certa ideia de que o fantástico corresponde simplesmente ao escapismo (e que isso é inevitavelmente mau), daí que esse preconceito exista.
8-A mídia, em geral, ainda abre pouco espaço para a literatura fantástica? Se a resposta for sim, o que você acha que falta?
Sim e não. Há toda uma evolução no meio de divulgação e de conhecimento que é a blogosfera. Há cada vez mais leitores a partilhar as suas opiniões e penso que, para o leitor comum, esse tipo de opinião mais aberta e menos centrada nas barreiras e preconceitos do costume, acaba por ser mais atrativa no que toca à descoberta de um determinado título. Parece-me, ainda assim, que há um longo caminho a percorrer.
Entrevistador: Tomi Farias
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