sexta-feira, 15 de abril de 2011

Entrevistas-Parte 1-Perguntamos aos Autores VI

Adriana Rodrigues (autora brasileira)


1-O que te leva a escrever literatura fantástica?
Afinidade. É de se imaginar que, como cientista, eu fosse preferir ficção científica, mas... sei lá, prefiro brincar com minhas próprias regras, não pegar regras prontas e criar algo em cima delas. Não que eu não me divirta pensando em algo de FC, às vezes, é só que gosto mais de extrapolar a vida comum, o dia-a-dia e o que já está certinho e estabelecido.

2-Você acha que esse tipo de literatura, tem uma rejeição maior nos países de língua portuguesa, já que não temos grandes nomes da literatura fantástica mundial, de origem em nosso idioma?
Uai, se fosse assim, era pra rejeitarmos qualquer coisa que não fosse poesia clássica de Camões. O que eu acho é que as gerações mais passadas (que, coincidentemente, formam nosso corpo de governantes, lideram empresas e meios acadêmicos) têm ainda muito enraizado neles que fantasia, poderes mágicos e bichos falantes é algo de contos de fada. No máximo Coleção Vagalume, que é assumidamente infanto-juvenil. Então, fantasia é vista como coisa infantil, de que alguém "adulto, sério e maduro" não deveria gostar mais. Acho que isso tende a mudar com a mudança de gerações, porque a nossa está mais exposta à fantasia não-infantil que a anterior.

3- Quando foi que você teve o primeiro contato com a literatura fantástica? E quando resolveu escrever?
Na infância, claro. Livrinhos de contos de fada estiveram entre minhas primeiras leituras. Quase todo livro infantil tem mais ou menos fantasia. E teve os desenhos animados e revistinhas da Turma da Mônica, grandes influências. Crio histórias desde sempre, era minha maneira de tentar driblar a insônia e o medo de escuro que me afligiam na infância. Decidi escrever quando percebi que eu precisava melhorar demais meus desenhos para fazer HQs de respeito, enquanto brincar com as palavras não exige tanto de sua coordenação motora. (Apesar disso, mantenho meu treinamento com os desenhos. Um dia vai...)

4-Em que lugar você busca inspiração para escrever suas histórias?
Ah, sei lá. De tudo. Do que eu leio, assisto, jogo, vejo, ouço, imagino, desejo... Qualquer acontecimento ínfimo e trivial pode engatilhar uma corrente de inspiração de me tirar do chão.

5-Você acha que ainda há espaço no Brasil ou Portugal para novos escritores de literatura fantástica?
Ora, claro! Se não fosse assim, não haveria mais espaço pra escritores desde Shakespeare! Cada época tem seu tempero próprio, e a gente nunca sabe quais escritores de hoje vão ser os representantes de nossa época amanhã. Agora, se a pergunta for: "há espaço para escritores se sustentarem apenas com a escrita no Brasil e Portugal?", aí meu "sim" tem bem mais ressalvas.

6-Em se tratando de literatura fantástica, o que é mais difícil: Escrever, encontrar uma editora ou adquirir novos leitores para o gênero (no Brasil/em Portugal)?
Ainda acho que é o escrever. Se algo é fantasticamente bom, mesmo com "n" rejeições, acaba achando uma editora corajosa e ganha seus leitores. O mais difícil de tudo é sair do estágio do "falar sobre escrever" e entrar no "escrever".

7-Em sua opinião, a literatura fantástica ainda enfrenta algum preconceito, por parte de quem não conhece o gênero?
Aquele preconceito de que já falei, que é coisa de criança. Ou que não pode tocar em temas profundos, realistas e relevantes. O engraçado é pensar que praticamente todos os grandes nomes da literatura fizeram literatura fantástica num momento ou outro de suas vidas, mas ninguém identifica como tal. Criaram até um tal de "realismo fantástico", só pra não darem o braço a torcer. Esse é irmão desse, sabem?

8-A mídia, em geral, ainda abre pouco espaço para a literatura fantástica? Se a resposta for sim, o que você acha que falta?
A mídia abre pouco espaço para literatura no geral. A menos que seja feita por pessoas que já estão na mídia, como celebridades e políticos, por exemplo. Além disso, em jornais diurnos e "programas de variedades" é comum vermos trailers de filmes, mas nunca vi nenhum programa popular mostrando trailers de livros (que existem, diga-se de passagem). Leitura é vista como algo quase "sagrado", e até um bocadinho chato, que não pode ser misturado com TV, filmes e todo o resto. Sei lá, acho que falta arrancar essa aura de "dever de casa" que o livro tem, e as pessoas encararem que ele pode ser uma diversão como qualquer outra. Pode ser bem mais do que isso, claro. Mas, se você quiser e souber escolher, pode ser só diversão, sim.


Entrevistador: Tomi Farias

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