domingo, 1 de maio de 2011

Entrevistas-Parte 1-Perguntamos aos Autores X

Fábio Ventura (autor português)


1-O que te leva a escrever literatura fantástica?
Desde pequeno que me senti atraído pela fantasia, por mundos imaginários e seres sobrenaturais que me faziam sonhar e imaginar outras histórias só minhas. Através desses mundos fantásticos, criava as minhas histórias com brinquedos, em desenho ou até mesmo entre amigos. Quando cresci, percebi que podia passar tudo isso para papel e escrever histórias para os outros. Penso que é um género que permite explorarmos ao máximo todo o potencial da nossa imaginação, que funciona como um escape perfeito aos problemas do mundo real e que, ao mesmo tempo, comporta diversas mensagens e metáforas para as nossas vidas.

2-Você acha que esse tipo de literatura, tem uma rejeição maior nos países de língua portuguesa, já que não temos grandes nomes da literatura fantástica mundial, de origem em nosso idioma?
Penso que a situação vai melhorando, pelo menos em Portugal (não conheço muito bem a realidade brasileira). Tem havido um certo crescimento a nível de autores nacionais de Fantástico e as editoras estão mais dispostas a arriscar em "sangue novo". Durante muito tempo, os leitores torciam o nariz em relação a autores nacionais devido ao velho preconceito de que "o que é nacional não é bom". No entanto, nós, autores de Fantástico, temos provado que também temos a nossa força. É certo que os países nórdicos e anglo-sáxonicos têm uma longa tradição de autores de fantástico aclamados mundialmente, mas os países de língua portuguesa vão conquistando a sua identidade aos poucos.

3- Quando foi que você teve o primeiro contato com a literatura fantástica? E quando resolveu escrever?
O contacto com a literatura fantástica teve três fases. A primeira ocorreu na infância com a banda desenhada e os contos infantis, desde os mais conhecidos (como o Capuchinho Vermelho e Bela Adormecida) até outros menos conhecidos do grande público. Mais tarde, na adolescência, conheci a saga "Harry Potter" que me "ofereceu" o gosto pela leitura e confirmou a minha preferência pelo Fantástico. A partir daí nunca mais parei de ler e foi aí que surgiu a terceira fase de evolução para outros subgêneros da literatura fantástica.
A escrita veio durante a faculdade. Sou licenciado em Ciências da Comunicação e o meu curso era muito direcionado para a escrita, tanto uma escrita mais objetiva (jornalismo) como mais criativa (fição para televisão e cinema). Descobri em mim um gosto pela escrita ao desafiar-me a mim próprio escrever algumas histórias e desde aí que tenho feito um esforço para evoluir, crescer e criar novas ideias no campo das letras.

4-Em que lugar você busca inspiração para escrever suas histórias?
Em todo o lado e em tudo. Gosto daquela velha analogia do escritor com um pintor: um autor pinta com palavras e, tal como o pintor, busca inspiração em elementos que podem ir do mais complexo ao mais simples e banal. Uma paisagem consegue inspirar-me tanto como a complexidade de uma personagem de um filme ou de um livro. De uma forma geral, gosto de estimular a minha inspiração no cinema, na fição televisiva, nos videojogos, na música, na pintura e, obviamente, na literatura.

5-Você acha que ainda há espaço no Brasil ou Portugal para novos escritores de literatura fantástica?
Sem dúvida. Aliás, penso que a situação até está melhor agora do que há dez anos atrás, por exemplo. Estamos a viver um período de popularidade do gênero Fantástico a nível mundial e é um bom momento para arriscar e trazer alguma variedade ao mercado literário. Se existir uma editora interessada em apostar em novos autores, há que explorar a heterogeneidade dos leitores. Existem leitores de todo o tipo e com gostos muito variados, pelo que é uma questão de esses novos autores lutarem pelas suas obras para vingarem no mercado.

6-Em se tratando de literatura fantástica, o que é mais difícil: Escrever, encontrar uma editora ou adquirir novos leitores para o gênero (no Brasil/em Portugal)?
Eu penso que todos esses elementos são difícieis à sua maneira. Embora seja um processo apaixonante, é difícil escrever pela entrega e sacrifício do autor e pelo rigor que tem de estar presente na sua obra. É difícil encontrar uma editora, pois são poucas aquelas que estão dispostas a arriscar e apostar num autor ainda desconhecido do grande público. Não nos podemos esquecer que, antes de editoras, são empresas que precisam de lucro para sobreviver. Finalmente, é difícil angariar leitores porque tudo depende deles próprios. A concorrência é muita (especial a estrangeira) e não é fácil chegar ao leitor e dizer "olha, está aqui o meu livro, lê". Tudo depende dos seus gostos, vontade, disponibilidade, etc.

7-Em sua opinião, a literatura fantástica ainda enfrenta algum preconceito, por parte de quem não conhece o gênero?
É uma tendência que tem vindo a desaparecer e nota-se que o gênero Fantástico está a ganhar cada vez mais reconhecimento e respeito. Durante algum tempo, havia o preconceito de que o gênero Fantástico estava muito direcionado para um público juvenil, pois as obras mais populares do gênero eram, de fato, direcionadas para os mais jovens (por exemplo, Harry Potter, Crónicas de Narnia, Twilight, etc.). No entanto, aos poucos o grande público começou a perceber que o gênero fantástico é um dos gêneros mais complexos e mais heterogêneos da literatura. Existem diversos subgêneros, influências, estilos, publicos-alvo e uma maior oferta nas lojas que vão desde um tipo de literatura fantástica mais comercial e/ou juvenil até um tipo de literatura mais densa e complexa direcionada para um publico mais maduro. Tudo depende do gosto e dos hábitos de leitura de cada leitor.

8-A mídia, em geral, ainda abre pouco espaço para a literatura fantástica? Se a resposta for sim, o que você acha que falta?
Infelizmente, sim (pelo menos no caso portugues). Ao contrário do público, que já olha para o gênero Fantástico com um maior respeito, a comunicação social ainda ignora este gênero da literatura. Mesmo com a sua crescente popularidade, essa tendência não mudou e é muito difícil conseguir divulgação junto dos media.
No entanto, nos últimos dois anos surgiu uma tendência interessante que foi o crescimento de blogues e foruns literários e uma forte aposta nas redes sociais (Facebook, especialmente) para partilha de informações sobre livros. O que se observa é que o gênero Fantástico é o mais referido e divulgado na Internet. Talvez seja uma tendência de uma nova geração de leitores, penso eu. E uma vez que a Internet é o meio de comunicação mais utilizado hoje em dia, essa aposta acaba por preencher a lacuna deixada pela fraca atenção da comunicação social tradicional (televisão, imprensa, rádio).


Entrevistador: Tomi Farias

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