quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entrevistas-Parte 1-Perguntamos aos Autores XV

Paulo Soriano (autor brasileiro)


1-O que te leva a escrever literatura fantástica?
O fantástico é uma inerência. Se um cientista analisar o meu DNA, certamente encontrará um gene que me impõe esta característica. Creio que, se há um par de alelos que define, por exemplos, olhos azuis, há também aqueles que orientam a inclinação pelo fantástico. Escrever literatura fantástica, portanto, não é uma escolha ou o resultado de uma inspiração. É uma determinação genética.

2-Você acha que esse tipo de literatura, tem uma rejeição maior nos países de língua portuguesa, já que não temos grandes nomes da literatura fantástica mundial, de origem em nosso idioma?
O preconceito ao gênero fantástico não é uma peculiaridade brasileira. Qualquer país que se julgue culto o tem como subliteratura. Mas é verdade que não temos uma tradição fantástica consistente, o que, de certa forma, aprofunda o preconceito.

3- Quando foi que você teve o primeiro contato com a literatura fantástica? E quando resolveu escrever?
Os velhos filme da Hammer despertaram aqueles genes ainda em minha infância. Depois, vieram os quadrinhos. Na adolescência, conheci Allan Pöe. Embora os meus primeiros textos remontem à infância, somente quando maduro me pus a escrever com maior intensidade.

4-Em que lugar você busca inspiração para escrever suas histórias?
Sofro de insônia. E, para induzir o sono, fico inventando histórias. Parece coisa de maluco, mas não é. Soube que King também partilha dessa excentricidade.

5-Você acha que ainda há espaço no Brasil ou Portugal para novos escritores de literatura fantástica?
Em 2009, o meu sítio “Contos Grotescos” lançou um concurso internacional de contos. Pois bem: o resultado surpreendeu pela qualidade das narrativas. Note que, dos dez contos laureados, quatro foram escritos por portugueses. Um deles, aliás, ficou em primeiro lugar. Mas não apenas no Brasil e em Portugal há espaço para novos escritores fantásticos. Nos últimos tempos, tenho publicado, no sítio, diversos autores galegos.

6-Em se tratando de literatura fantástica, o que é mais difícil: Escrever, encontrar uma editora ou adquirir novos leitores para o gênero (no Brasil/em Portugal)?
Escrever é muito difícil. Tão difícil que nunca aprendi verdadeiramente a escrever. Publicar, então, é um sonho de muitos poucos. Muitas vezes, é mais uma questão de mercancia do que de talento. Recentemente, consegui publicar, como organizador, uma coletânea de contos – Mestres do Terror – na lusófona Galiza. Algo impensável no Brasil. Quanto aos leitores, eles chegam aos poucos, quando e de onde você menos espera.

7-Em sua opinião, a literatura fantástica ainda enfrenta algum preconceito, por parte de quem não conhece o gênero?
Não só de quem não conhece o gênero, mas, também – e especialmente – de quem se julga muito sábio e muito culto. A leitura de Pöe, por exemplo, fascina muita gente esnobe; mas, por vergonha intelectual, essa gente prefere pô-lo debaixo do tapete.

8-A mídia, em geral, ainda abre pouco espaço para a literatura fantástica? Se a resposta for sim, o que você acha que falta?
Há, sim, espaço na mídia, embora o que se divulgue não seja exatamente o que eu desejaria que fosse divulgado. Muitas vezes, o fantástico é mera ocasião – ou pano de fundo - para enlevar o amor represado em corações adolescentes...


Entrevistador: Tomi Farias

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